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domingo, 10 de agosto de 2008

Um Pouco Sobre o Meu Pai

É difícil escrever algo sobre meu pai, creio que nem ele mesmo conseguiria expressar algo sobre ele, ou talvez sim, quando as pessoas têm dificuldades de expressar seus sentimentos em público, acabam sendo ótimas no papel. Já tive uma relação boa com meu pai, hoje temos algumas ressalvas, vivemos num Mundo mutável, convivi bem com meu pai até ele descobrir da minha sexualidade, depois disso a relação ficou balançada.

Certa vez vi num site qualquer, um religioso qualquer perguntando se alguém já conheceu um gay que tem uma boa relação com o pai, eu acredito que tem muitos gays que vivem maravilhosamente bem com os pais, muitos mesmo, nem todos são hipócritas e tem a bíblia como uma Carta Magna para a vida, nem todos vêem a bíblia como uma Constituição Federal, e tentam validada-la a qualquer custo a todos os assuntos que não dizem respeito a igreja. Meu pai nasceu numa família de religiosos, apesar de ele não botar os pés na igreja, ele tem muito dos ensinamentos que meus avós passaram para ele, muitos ensinamentos positivos, que o transformaram num homem de bem, mas junto com isso veio toda a intolerância típica em religiosos fundamentalistas.

Hoje dei um presente para o meu pai, é difícil presenteá-lo, mas nesse ano acertei em cheio, dei um touro esculpido em madeira com uma carroça, a carroça é um suporte para um barril para armazenamento de bebidas, muito bonito, um trabalho belíssimo. No ano passado dei um kit caipirinha, ele gostou muito, mas não usou, ficou com dó de estragar, apesar da criação religiosa, o meu pai adora uma bebida, não abre mão de uma cervejinha e uma caipirinha, se for acompanhado de uma boa carne, melhor ainda.

Um dia desses, comentei aqui no blog que a minha mãe tem uma homofobia estranha, um amor gigantesco por mim, e uma reprovação a minha sexualidade, volto a dizer o mesmo do meu pai, ele não aceita a minha orientação sexual, sei disso, mas convivemos harmoniosamente, ambos não tocam no assunto, apesar de que às vezes o silencio dói, fica um vazio enorme em cima de um tema que ignoramos na vida. Ele conhece o Douglas, creio que não morre de amores por ele, mas na oportunidade do aniversário da minha irmã, o Douglas foi, e foi bem recebido por toda a minha família. Minha família tem um jeito muito italiano de ser, querem todos os filhos juntos a eles, até os gays que eles não aprovam (tenho uma irmã que também é gay), vejo que o amor de pai e os princípios religiosos que a família deixou são grandes, dá um contraste nas atitudes e sentimentos.

Meu pai é um bom pai, seria melhor se ele não fosse tão reservado, ele é o tipo de homem que é estável, e derepente nos surpreende, meu carro foi um presente dele, ele me mandou escolher, e depois de uns quatro meses eu estava com ele nas mãos, foi um carro zero, isso foi há quase cinco anos, e mudou a minha vida por completo. Poucas mulheres têm esse sentimento de homem em relação a carros, creio que os homens entendem/valorizam mais esse tema, na época foi uma grande prova de amor paterno, não esperava por isso, nesses gestos que acho o meu pai surpreendente, ele é quase sempre estável, e às vezes nos surpreende com algumas regalias que não esperávamos, se tais atitudes fossem apenas no social e familiar, seria ótimo, mas ele também é assim na vida profissional.

Nessa semana pedi para minha mãe me ajudar a procurar algo de extremo valor sentimental que perdi, esqueci onde guardei, procurei por quase dois dias, estava entrando em desespero, ficava pensando o que eu fiz, os detalhes por onde eu passei, na tentativa de buscar em minha memória onde eu deixará esse objeto de grande valor sentimental, cansado de procurar fui para o meu quarto, minha mãe também foi para levar roupas passadas, quando virei para o guarda-roupas eu visualizei e disse:

- Nossa, está aqui, não acredito, eu coloquei aqui quando fui dormir, deixei a vista para colocar assim que acordasse, não nego a família que eu pertenço. Disse para minha mãe pegando e guardando.

- Você é igual o seu pai, esquecido. Disse minha mãe guardando as roupas.

Na verdade me pareço muito com o meu pai, temos um gênio muito parecido, e creio que é por conta disso que “as vezes” entramos em conflito, eu sou genioso, quero que as coisas sejam feitas do meu jeito, e ele também, trabalhamos juntos, algo que não é legal para a relação familiar, no ano que vem pretendo romper esse vinculo profissional, creio que será melhor para todos, minha relação com ele melhorará muito, quando isso acontecer, terei apenas não pai, e não um pai e patrão.

Com todas essas diferenças, ou semelhanças, sei lá, estou confuso, amo meu pai de coração, e desejo a ele toda a felicidade do mundo, espero que o meu presente seja usado em muitos momentos de alegria, para brindar a vida, os bons momentos que estarão por vir...

13 comentários:

Anônimo disse...

Minha experiência com meu pai foi traumática demais e, provavelmente, carregarei as cicatrizes que ficaram até o meu fim. Hoje vivo bem com ele, evidentemente não posso considerá-lo nem meu íntimo e nem meu amigo. Ele é o meu pai e eu o seu filho, apenas... teu belo texto , mais uma vez, faz a gente refletir. Eu percebi que apenas ter mágoas do meu pai não levaria a nada, só a mais mágoas. Então abri mão delas e vamos os dois, vivendo à medida do possível. Gosto do carinho com que ele trata a minha mãe, vê-los discutindo política aos 80 anos e com uma jovialidade que muito garotão de faculdade não tem me é um grande alento e diversão. Minha mãe se mantém atualizada e sempre que tenho uma dúvida ligo para ela, que sabe a resposta. Penso, hoje, Dia dos Pais, em mim, cuja paternidade me foi negada, violentamente negada por eu ser homossexual. Só hoje em dia, depois dos meus 50 é que se vislumbra a possibilidade de adoção por casais homossexuais, mesmo assim com penosas idas à Justiça.
Beijo
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Ah, só uma coisa: a foto do teu pai sentado na cadeira - a segunda - está muito bonita! Manda ele passar uns dias lá em casa... risos...
Ricardo

Anônimo disse...

http://www.casaraobrasil.com/pt/index_pt.htm
sobre o papo de ontem....
Beijos!

Celso Dossi disse...

Pra vc ver como, com amor de pai e mãe, nem religião consegue bater de frente.

Unknown disse...

Negão, que texto lindo!
Minha relação com o meu pai é muito parecida com a sua, aliás, não existe relação alguma.
Olha, quando puder, tira a Homofobia Franciscana de lá e coloca esse texto.
No lugar do Bento coloca essa primeira foto do coração aí!!!!!! Puxa , que lindo cara!

Anônimo disse...

Meu pai partiu há pouco tempo. Nossa relação sempre foi muito boa. Apesar da grande diferença de idade entre nos, ele sempre me respeitou em tudo e, a cada dia, sabia demonstrar seu respeito e seu amor por mim. Não posso dizer que fomos amigos, íntimos, mas fomos uma boa dupla de Pai e Filho. Sinto profundamente a falta dele e o apoio que sua existência me dava. Pelo menos, fico feliz por termos podido compartilhar momentos importantes de nossas vidas.

Arthur
http://artcasez.wordpress.com/

Tiago disse...

E de repente nos encontramos frente a frente com nosso PAI

Figura de mtas atitudes e presença que só nós seus filhos, podemos o conhecer como ninguém.

Eu amo por De+ meu pai.
Tenho certeza que como vc disse tenho com relação a ele, mtas coisas diferentes

Mas que viva os Pais, que de uma forma ou de outra merecem nossas congratulizações e inúmeros desejos de posteriores dias bem felizes!

Bjo pra Vc!
Excelente Semana Marco!

Anônimo disse...

Oi Marcos, primeiramente parabéns pelo seu blog simplesmente ÓTIMO.
Minha relação com meu pai, melhor impossível, meu melhor amigo, me aceita, me respeita, tenho total liberdade para comentar qualquer coisa com ele. Um de meus tesouros se chama Maurício e tem 70 anos.
Sou gay, tenho 43 anos, me chamo Bruno. Super abraço para vc!

Anônimo disse...

Foi na Blue do lado da minha casa e não me chamou... snif... tudo bem, eu não iria mesmo, quebrei o pé hj, puta dor, meu... escreva um post sobre pés quebrados... risos...
Beijos,
Ricardo

MaxReinert disse...

Meu pai faleceu quando eu tinha apenas 14 anos e nem pensava ainda em minha sexualidade... Não sei como seria nossa relação sobre este tema.. mas creio que seria algo muito próximo do que vc fala... sabemos de tudo, mas não tocamos no assunto. Com certeza, acho que em algum lugar aparece um hiato... como se eles não nos conhecessem a fundo...

Mas, nesse assunto, ficarei só no "acho"!!!

Discípulo disse...

Lindo relato. Super emocional e verdadeiro. Parabéns! ;-)

Anônimo disse...

Infelizmente não posso dizer que tenho um bom relacionamento com meu pai, pois últimamente estamos convivendo cordialmente.
Nunca tive uma boa relação com ele, pois me deixou muitas cicatrizes devido ao seu passado.
Não consigo dizer que ele é meu pai, e sim uma pessoa qualquer, e daquelas sem afinidades.
Todo o amor que eu tinha vontade de dar a ele, eu repassei a minha mãe, que sempre fez os dois papéis da vida (pai e mãe).
Sobre sexualidade, sou muito reservado(pelo menos tento ser rsrsrs), e meu pai é um tanto homofóbico.
Mas sua opnião não me importa, pois pra mim, o importante é o meu bem estar.
E mais, a família da minha mãe já souberam recentemente sobre a minha sexualidade, e todos reagiram muito bem.
Já na família do meu pai, todos são frequentadores de igreja, porém, a maioria pecadores...mas isso não vem ao caso.
Portanto, já deu para perceber qual é minha relação com a família do lado de lá né....
Pra mim, dia dos pais é mais um dia que me deixa estressadissimo, pois fico naquela angustia de ter que pegar o telefone e fazer uma simples ligação.
Todos podem achar que estou sendo radical, porém tenho motivos suficientes para dizer que não me dou bem com meu pai, apesar de recentemente estar trabalhando na empresa dele. Mas com uma vantagem, à distância...
Tive muita vontade de ter um pai de verdade, mas infelizmente não fui concebido com essa graça.
Ainda penso na idéia de ter um filho, e tenho a total certeza de que se um dia for pai, farei ao meu filho tudo aquilo que meu pai não me fez.
Ótimo post marquito.
Bjs

Serginho Tavares disse...

eu gostaria de ter tido um...