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quinta-feira, 6 de março de 2014

Sobre Carnaval, Homofobia e Políticas Excludentes

A Mangueira não foi a campeã do Carnaval Carioca, mas sem sombras de dúvidas foi a escola que mais representou a Diversidade Cultural que existe no Brasil. Contando à história das festividades do Brasil, a escola levou à avenida 36 alas e sete alegorias para contar as origens e características das principais datas festivas do país. "Pegue seu par, dance quadrilha / 'simbora' pro meu sertão / vem pular fogueira / viva são João!", cantou o refrão do samba da verde e rosa. 

Os mais de 500 anos do Brasil foram retratados a partir de suas celebrações, desde o Descobrimento do país até tradições mais recentes, como a Parada Gay: "Sou brasileiro, vou festejar / Meu palco é a rua e a luz o luar / No coração da floresta magia que encanta "Garanto" que vai "caprichar" / Chegando à terra da garoa um arco-íris despontou / orgulho, respeito, igualdade / tremula a bandeira da diversidade". 

As cores da bandeira da diversidade sexual puderam ser vistas nas alas arco-íris e arauto da diversidade. Outro setor da escola trouxe homens vestidos de noivos e mulheres de noivas com seus buquês, representando a união homossexual, com direito a beijo gay. O sexto carro da agremiação também foi dedicado ao tema. Segundo a escola, 44 homens vieram na alegoria, sendo que a maioria deles vestia um sobretudo preto e chapéu. Em certo momento do desfile, todos entravam em um espaço com porta e saíam de dentro dele vestidos com espartilhos luminosos, fazendo coreografias – uma alusão à expressão popular “sair do armário”, que define quem assume a homossexualidade. Um verdadeiro show de diversidade. 

Depois de tanta alegria, o Brasil recebeu uma triste noticia na quarta-feira de cinzas, um menino de apenas 8 anos teve o seu fígado dilacerado pelo pai, devido aos constantes espaçamentos para o menino “virar homem”. Alex gostava de dançar dança do ventre e lavar louça. As sucessivas pancadas do pai, provocadas porque Alex não queria cortar o cabelo, dilaceraram o fígado do garotinho. Uma hemorragia interna se seguiu, levando o menino, que também gostava de forró e de brincar de carrinho, a óbito. 

Fazendo contraste com o colorido da diversidade e respeito promovido pela Mangueira, o corpo do menino Alex se tornou um mapa dos horrores que vinha passando por aquele que naturalmente deveria amar e proteger. O pai de Alex já havia cumprido pena por trafico de Drogas, o que nos leva a concluir que ele faz coro a predileção de muitos que dizem que preferem um filho bandido a um filho homossexual. Alex morava no Estado do Rio Grande do Norte, com sua mãe, mas para ela não perder a guarda do filho, pois não o enviava para a escola, mandou o garoto para morar com o seu pai. 

Essa discrepância em nosso país acontece principalmente pela ausência de políticas públicas e reparatórias para a população LGBT. Vivemos em uma sociedade machista e homofobica, que aceita perfeitamente declarações de religiosos, em rede nacional, falando que gays são aberrações, escórias da sociedade. Vivemos num Estado de natureza laica, mas a cada eleição os legislativos de todo o país engrossa mais o caldo da bancada fundamentalista, que acabam legislando por causa própria, travando as pautas dos Direitos Humanos e se unindo com a bancada ruralista. 

Recentemente, o deputado Assis do Couto (PT), que acaba de assumir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, declarou que não é favorável nem contra a relação amorosa entre duas pessoas do mesmo sexo, se colocando em cima de muro numa questão tão importante e superada por países que estão no mesmo patamar de desenvolvimento do Brasil. O PT novamente mostra o tom de descaso com os Movimentos Sociais, rompendo com lutas históricas, que estavam com o partido desde a sua fundação. Enquanto não rompermos com governos descompromissados com a luta pelos Direitos Humanos, continuaremos sendo o país que mais mata homossexuais no Mundo, manchando o colorido da diversidade, com o vermelho da homofobia.