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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Documentário revela trajetória da escritora Cassandra Rios

Com lançamento previsto para 31 de agosto, o documentário “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” promete ser um documento sobre uma das homossexuais maisexpressivas do País.

Perseguida pela ditadura militar, sob alegação de pornografia, a paulistana Cassandra Rios é relembrada nas telas pela realizadora Hanna Korich. O documentário, selecionado em concurso do ProAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, traz depoimentos de pessoas que, de alguma forma, fizeram parte da vida de Cassandra, como a sobrinha Liz Rios, a atriz Nicole Puzzi, a escritora Lúcia Facco, o editor Maxim Behar, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, Dr. Martim Sampaio, entre outras personalidades.

Um dos objetivos do documentário, de acordo com Hanna Korich, é retratar os momentos mais importantes da carreira da escritora, mostrando seu embate com as forças da censura e sua velhice solitária, e o avanço do reconhecimento das minorias sexuais. “Ela chegou a presenciar as primeiras Paradas LGBT de São Paulo”, lembra a realizadora, que acrescenta: “É também uma homenagem à sua ousadia e pioneirismo para as lésbicas brasileiras.”

O projeto de “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” nasceu do desejo de não apenas relembrar a trajetória da escritora, mas também apresentá-la às gerações atuais. “Cassandra foi a primeira autora a abordar o lesbianismo de forma aberta na literatura brasileira, tendo começado a publicar em 1948, e a primeira também – espantosamente – a falar da mulher como um ser sexual, que tinha desejo”, conta Hanna. Para a realizadora, o documentário é dirigido “a todos os jovens que nunca ouviram falar dela e também aos mais velhos, que lembram mas faz tempo que não pensam nela”. “Está mais do que na hora de começarem a repensar a contribuição heroica que essa mulher fez ao movimento LGBT e à literatura em geral”, defende.

Outro importante aspecto abordado no documentário é o fato de Cassandra Rios ter sido perseguida durante a ditadura militar. Como destaca Hanna Korich, “Cassandra Rios foi a escritora brasileira mais censurada pela ditadura, com 36 livrosapreendidos, o que levou à sua bancarrota e ao fechamento de sua livraria”. A realizadora acrescenta que Cassandra não teve apoio nem mesmo dos intelectuais. “Ela teve o apoio de poucos, como Jô Soares, que a entrevistou em 1990, e de Jorge Amado, que a considerava ótima escritora”, revela Hanna.

Bestseller absoluta nas décadas de 60 e 70, com mais de um milhão de exemplares vendidos de uma obra, Cassandra Rios faleceu em São Paulo, aos 69 anos de idade, em 8 de março de 2002. “Cassandra Rios: a Safo de Perdizes” traz à tona a audácia da escritora durante os anos de chumbo e sua importância para a literatura brasileira.

Um dos depoimentos mais emblemáticos é o da sobrinha de Cassandra, Liz Rios, que revela que a censura teve um impacto enorme sobre a carreira da paulistana, autora de títulos como “A Tara”, “Tessa, a Gata”, “Volúpia do pecado”, “A paranoica”, entre outros.

Importante também é a entrevista com o advogado e representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Dr. Martim Sampaio, que declara que já enviou ofícios àscomissões da verdade denunciando as perseguições descabidas à Cassandra, e o depoimento de Eliane Robert Moraes, professora de Literatura Brasileira da USP, crítica literária e escritora, que entrevistou Cassandra para uma revista feminista, a “Mulherio”, e conta que ficou impressionada com a ousadia e amargura da autora.

 

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