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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O Trio de Muhammed

Existem algumas regras de conduta para pegação virtual que, se seguidas a risca, evitam muitos desconfortos. As mais eficientes são a "cutuca que te cutuco" e a "curta que eu curto". A probabilidade de incômodos na paquera, com a aplicação dessas regras, é quase nula.

João Vitor, experiente no ambiente virtual, aplicou as duas técnicas conjuntas com Muhammed. Meia hora depois Muhammed já havia retribuído a cutucada e as curtidas. Sem pensar duas vezes João Vitor já enviou um "olá" por mensagem instantânea e sem ter tempo de fechar a janela de bate papo, já visualizou a notificação que Muhammed estava respondendo.

Muhammed era um refugiado Sírio. Veio para o Brasil por conta de divergências políticas e sociais. Como se não bastasse a sua família ser de oposição ao Governo, Muhammed também era gay e teve que fugir do seu país para não ser morto.  João Vitor era filho de baiano com uma pernambucana, tinha uma testosterona natural dos nordestinos, mesmo nascendo em São Paulo, tinha calor correndo pelo sangue.

As conversas fluíram muito rápido, Muhammed prezava pela boa comunicação, além de ser muito desconfiado, talvez pelo fato de ter fugido de um país, onde vizinhos e familiares poderiam se revelar como o seu mais cruel inimigo.

Muhammed e João Vitor foram se conheceram no Parque do Ibirapuera. Parecia um sonho para Muhammed, finalmente ele estava em paz, seguro e com alguém que ele poderia amar. No final daquela tarde, depois de caminharem de mãos dadas pelo parque e tomaram sorvete, envolvidos pela vista do pôr do sol proporcionada pelo lago, Muhammed pediu João Vitor em namoro. João Vitor não disse sim, mas também não disse não, apenas respondeu com um beijo e disse que ele era um dos seus melhores presentes.

Foi numa das infinitas conversar que tudo ruiu, ou quase ruiu. Muhammed perguntou para o João Vitor se ele já tinha feito "trio". João Vitor sem entender o questionamento, pediu explicações, até descobrir que o "trio" se tratava de "sexo à três". João Vitor pensou em responder qualquer coisa, mas optou pela sinceridade e disse "sim". Muhammed desolado respondeu que era difícil achar alguém sério no Brasil e que todo mundo já havia feito "trio".

A imagem do "trio" não saia da cabeça de Muhammad, como ele poderia amar uma pessoa que já fez "trio"? João Vitor tentou argumentar, disse que tudo o que ele viveu o transformou naquele homem que o amava, mas Muhammad estava convicto de que homem que faz "trio" não era homem para ele.  

João Vitor fez uma proposta para Muhammed e sugeriu um último encontro e se após este encontro a imagem do "trio" ainda atormentasse a cabeça de Muhammed, cada um seguiria o seu destino e assim foi feito. 

Eles foram num motel, pois apesar de Muhammed ser resolvido, ele vinha de uma cultura muito reprimida, o sexo ainda não havia acontecido entre eles. Tudo foi louco e intenso, ambos transaram como duas cadelas no cio, parando apenas para tomarem banho e fumar um cigarro.  

Quando sairiam do motel, João Vitor perguntou se a imagem do "trio" havia saído da cabeça de Muhammed. Ele muito triste respondeu que não e que ambos deveriam ser apenas amigos. João Vitor não ficou triste, mas também não ficou alegre. Ele perdeu Muhammed, mas poderia pintar, quando chegasse em sua casa, um mapa de colorir afixado na parede do seu quarto, contornando as delimitações da Síria. A marcação seria num tom verde claro, mas a esperança de se tornar um verde escuro era muito grande

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