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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dilma, não Brinque com o Movimento Gay - Por Wagner Nunes

Meu nome é Wagner Nunes, tenho 22 anos, sou homossexual e acima de tudo sou Brasileiro. Apesar de entender que a política interfere diretamente na vida de todo e qualquer cidadão seja homo ou heterossexual, seja branco ou seja negro, seja homem ou seja mulher, eu por vezes prefiro ficar omisso em discussões partidárias onde pessoas que lutam por um mesmo ideal perdem o foco e preferem dar mais atenção ao partidarismo, do que aos interesses da causa LGBT.

Não quero Viver com a terrível limitação de ser apenas Azul ou apenas Vermelho, Eu Não… Quero ser um arco-íris! Acima de tudo respeito à opinião de todos…

Cada um de nos tem uma motivação para defender aquilo que acredita. A minha motivação vem de algo que gostaria de chamar de passado, mas infelizmente não posso, pois a cada dia eu vejo muitos que como eu, sofreram e ainda sofrem com o preconceito. Pessoas que são agredidas gratuitamente apenas por ter uma orientação sexual diferente dos demais, pessoas que são impedidas de alugar ou de comprar imóveis por não serem vistas por parte da população como uma família de fato, pessoas que tem seus direitos negados pelo simples fato de se relacionar com alguém do mesmo sexo.

Eu sinceramente gostaria de dizer que nunca passei por nada disso, porem não posso… Sou sincero em dizer que minha vida escolar foi tranqüila, e não sofri Bullying Homofóbico, porem na escola onde estudei “existia” uma boa estrutura, mas infelizmente essa não é a realidade de toda a rede publica de ensino no Brasil. A escola prepara o aluno para a vida, para muitos é a primeira experiência de socialização e posso dizer com convicção que ninguém nasce Homofóbico, a escola tem “ou deveria ter” a obrigação de ensinar seus alunos que a intolerância não faz bem a ninguém e que as pessoas não devem sofrer nenhum tipo de discriminação por serem diferentes. A mente deve ser aberta á tudo. Menos ao preconceito. Os alunos que se formam em escolas que não possuem uma boa estrutura, são pessoas que tem uma predisposição para se tornarem adultos intolerantes, preconceituosos e sem senso critico. E ai que esta o ponto, se a escola não prepara os alunos para serem pessoas de bem e as famílias não se preocupam com isso, o resultado é a intolerância. Hoje se tornou comum ligar a TV e ver casos de crimes motivados pelo ódio, homofobia virou algo normal.

Em 2010 fui agredido verbalmente por um segurança em um shopping da zona sul de São Paulo, no mesmo ano fui agredido gratuitamente em uma cidade do interior, mas a maior e pior de todas as experiências foi há quatro anos, quando fui abordado na rua em uma cidade no interior do Paraná, por dois homens que me chamaram de “viado” “viadinho” e sem nenhum motivo justo aparente disseram que eu merecia apanhar na cara porque eu nasci para ser homem e enfermagem não era profissão de homem, (pois no dia eu estava vestido de branco por ter participado de um estagio no hospital da cidade) Depois de levar dois socos na boca e ter meu aparelho ortodôntico completamente preso em meus lábios, consegui ter forcas para me levantar do chão e correr alguns metros em direção à delegacia que ficava bem próximo, fui perseguido por algumas quadras ate me atirar na frente de um carro em movimento, a fim de pedir ajuda, ajuda esta que me foi negada, por fim cheguei á delegacia, mas não levei o caso adiante, a cidade onde isso aconteceu é pequena e tive medo de ameaças, também quis poupar minha família de mais preconceito. As conseqüências foram as marcas em minha face que ficaram visíveis por um longo tempo, além de ter desenvolvido síndrome do pânico. Depois de um longo tratamento, hoje estou bem, mas o pior de tudo é a humilhação à sensação de impotência, isso eu jamais irei esquecer.

Bom… É “passado”, mas á poucos meses fui questionado e presenciei claramente o preconceito ao tentar alugar um imóvel na cidade onde moro atualmente, ouvi orientações do tipo: “não permito travestis, se tiver amigos assim não poderá trazê-los aqui” com o tempo aprendemos a lidar com tais situações, mesmo sabendo que eu não deveria passar por nada disso. Não é justo, não é certo, mas é a realidade. Enfrentar preconceitos é o preço que se paga por ser diferente.

É triste ver que sou obrigado a viver como cidadão de segunda classe… No fim de tudo o fato é que não sou tão ingênuo a ponto de acreditar que o preconceito possa acabar de uma hora para outra, mas sou inteligente o bastante para entender que algumas medidas poderiam ser um enorme passo para que isso aconteça. Nos últimos dias a nossa presidente Dilma, infelizmente vetou uma dessas medidas que poderiam evitar que no futuro muitos não precisem passar pelo que passamos ainda nos dias de hoje. E o mais triste é saber que servimos como moeda de troca, e que em um Estado laico, os desejos de um grupo religioso sempre prevalecem…

No Brasil, se faz mais politicagem do que política. Somos todos brasileiros, porem me sinto um exilado ao ver que tenho menos direitos, apenas por ser homossexual, apenas por ser diferente.

Também quer desabafar sobre a homofobia escolar? Mande o relato por e-mail, que publico no blog.

4 comentários:

FOXX disse...

fiquei com vontade de escrever tb um texto, pq eu sou professor, sofri bullying na escola e vi alunos meus sofrerem tb. vou escrever...

Marcos Freitas disse...

Foxx,

Escreva sim, vou adorar receber o seu depoimento.

@bloggerbrasilis disse...

Publiquei um link prá essa postagem no diHITT!!!

@bloggerbrasilis disse...

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/921973-novo-kit-anti-homofobia-deve-ser-lancado-ainda-neste-ano.shtml

Notícia publicada na Folha de S. Paulo