O Mundo anda tão Complicado

Às vezes me pego com tantas saudades do Wagner, era um cara bacana. Conheci pela Internet, não me lembro se foi bate papo, amigos virtuais ou sei lá o que. Na primeira conversa, ele disse que morava no Morumbi, quando fui na casa dele descobri que era um outro bairro que o nome me fugiu da memória, mas que foge de todo o estereotipo que formamos quando nos remetemos ao bairro de classe alta.

Na época íamos muito no Clube Base e na Tunnel, éramos adolescentes, ambos com 18 anos. Tinham outros na turma que eu também tenho saudades como o Michel e o Ademir (que ainda tenho contato, mas não saímos mais). Tive um namoro relâmpago com o Wagner, mas ele era emotivo demais e não deu certo. Certa vez ele me ligou, era tarde da noite, quando eu atendi, fiquei nervoso, pois ele ligou no telefone fixo e não queria que meus pais acordassem. Então ele, com uma voz triste me disse: Só liguei para você ver a lua, ela está linda. Aquilo me destruiu, sai no quintal e me surpreendi com aquela lua, não vi nada tão vivo e brilhante. Nunca mais vi uma lua daquelas, deveria ter fotografado.

Antes de conhecer o Wagner, eu já gostava de Legião Urbana, aprendi a gostar com o André, estudante de letras da USP e até hoje o cara mais bonito que já fiquei. O André foi motivo que muitas brigas com meu pai, por conta das altas contas de telefone, às vezes ficava deitado no tapete da sala e ali ficava por horas e horas conversando com ele. Ele colocava músicas da Legião Urbana para eu ouvir pelo telefone e depois contava em que momentos a vida dele havia sido marcada por aquelas músicas. A preferida dele era “Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto”, na época eu fazia espanhol, traduzi a música e fiz uma versão espanhola pra lá de bizarra.

Tenho várias músicas prediletas da Legião, é difícil escolher uma, é como tentar escolher o dedo que eu mais gosto. Eu gosto de todos, preciso de todos e esteticamente é bonito ter todos do jeito que eles são. Tinha uma amiga, a Juliana, que cantava “Faroeste Caboclo” de cor, eu ficava embasbacado com aquilo, até hoje não sei cantar essa música. Acredito que esses cursos de memorização devem usar esse texto, sei lá. Se for para escolher uma música, eu escolho “Pais e Filhos”, pronto, falei. Não quero parecer clichê, mas é a minha predileta e ponto final. Tem também “Sexo Verbal” que é maravilhosa e a “Eu Era um Lobisomem Juvenil” também é muito boa. Renato é Renato e até hoje o Brasil tem um enorme buraco deixado com a sua morte.

Uma música que marcou muito a minha vida e essa sim é a predileta do Wagner, é “O Mundo Anda Tão Complicado”, e desde a primeira vez que ouvi essa música, quis que ela se tornasse real na minha vida. Queria ou quero, sei lá, que ela se cumpra na integra:

Gosto de ver você dormir, que nem criança com a boca aberta. O telefone chega sexta-feira, aperto o passo por causa da garoa. Me empresta um par de meias, a gente chega na sessão das dez. Hoje eu acordo ao meio-dia, amanhã é a sua vez. Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver, o mundo anda tão complicado, que hoje eu quero fazer tudo por você. Vamos chamar nossos amigos, a gente faz uma feijoada. Esquece um pouco do trabalho e fica de bate-papo. Temos a semana inteira pela frente, você me conta como foi seu dia e a gente diz um pro outro: - Estou com sono, vamos dormir!

Sempre imaginei dessa forma, como está na música. Nunca pensei numa vida fácil, e sim tendo que se desbravada com muita garra, com amigos, compartilhada e no final com amor e felicidade. Não espero que um dia o mundo deixe de ser complicado, mas espero que pelo menos eu tenha alguém do ao meu lado para lutar contra suas complicações. Quem sabe um dia, se não for, eu espero o fogão e a geladeira e a televisão, de uma forma que eu não nunca sonhei, sozinho.