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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os Filhos que Geramos

Assim como está amplamente sendo especulado pela mídia, eu também estou inquieto quanto a motivação do massacre ocorrido no dia de ontem em uma escola pública no Realengo, Rio de Janeiro.

Wellington Menezes de Oliveira tinha 23 anos e morava sozinho. Ultimamente tinha hábitos estranhos e andava de preto. O mundo dele era internet e gostava de jogos: diz um vizinho na TV. E antes do ataque deixou carta com teor religioso. Considerado tranquilo e tímido matou mais meninas do que meninos - o que pode demostrar um perfil psicológico de alguém que já sofreu rejeição por mulheres.

Ninguém opta pelo descaso, ninguém é reservado por mero capricho. Não estou defendendo Wellington, muito menos validando a sua atitude, apenas quero chamar a atenção que o Wellington também era um “brasileirinho” que teve a sua vida interrompida. Assim como das vitimas que ele brutalmente assassinou, os seus sonhos também foram enterrados e interrompidos. E qual é a parte que nos toca? Nos, como sociedade organizada, em que momento criamos o Wellington e quantos Wellingtons Brasil afora estamos criando?

Um dia depois do massacre na escola, surgem indícios de que o bullying é um dos fatores contribuintes para o crime. Colegas de classe afirmaram que Wellington Menezes, ex-aluno da escola Tasso da Silveira, era vítima de bullying e que um colega chegou a fazer a macabra previsão de que um dia ele "mataria muita gente". Do fato que ganhou manchetes em jornais do Mundo inteiro, podemos destacar que Wellington era virgem, algo pouco comum para um jovem de 23 anos e que o seu alvo eram mulheres. Talvez uma rejeição sexual ou até mesmo a sua introspecção na vida social, desencadeou tudo isso.

A escola tem um caráter sociabilizador e é dever da mesma criar mecanismos que promovam as trocas de relações sociais. Não devemos procurar culpados para o que aconteceu, mas temos sim que levantar uma discussão e analisarmos onde foi que a sociedade errou. Qual o papel que familiares, amigos e sociedade civil deveria desenvolver para que crimes tão cruéis como esse sejam evitados.

O caso do massacre do escola no Realengo me vez lembrar o caso do adolescente americano que se suicidou por conta do bullying que vinha sofrendo. Tyler Clementi tinha 20 anos, era estudando e violinista, morava no dormitório de uma faculdade no Estado de Nova Jersey. Ele dividia o quarto com Dharum Ravi, para quem pediu um pouco de privacidade. Ravi saiu, mas deixou uma webcam ligada, gravando tudo o que acontecia no quarto, com as imagens sendo exibidas ao vivo por um site de internet. As imagens gravadas mostravam Tyler beijando outro homem.

No Twitter, Dharun assumiu a autoria do vídeo e publicou no dia 19 de setembro a mensagem “Eu o vi transando com outro cara”, referindo-se a Tyler Clementi, seu colega de quarto. Três dias depois, humilhado e com sua orientação sexual exposta, Tyler colocou uma mensagem em sua página do Facebook que dizia “jumping off gw bridge sorry” (saltando da ponte george washington sinto muito).

Tyler Clementi quando publicou no seu facebook que saltaria da ponte George Washington, estava decidido a morrer e não tinha mais nada a perder, na sua visão, tudo o que ele tinha, foi tirado com a propagação do bullying. A atitude de Tyler poderia ser outra, ele poderia entrar fortemente armado no campus da universidade e tirar a vida daqueles que tiraram sua privacidade e “dignidade”.

Nos Estados Unidos, uma campanha chamada "It gets better" - que em português significa: "Isso melhora", foi lançada no ano passado. Artistas da Brodway também aderiram a campanha e lançaram um clip que leva o mesmo nome da campanha. Em forma de música, eles dizem: "Quando você se sentir sozinho e o mundo se mostrar cheio de ódio, isso não é o fim".

A música diz: "Isso melhora, melhora, melhora/ a dor vai sumir, sumir, sumir /se você cair, apenas levante, levante, levante / porque existe um outro jeito / Isso melhora, melhora, melhora / o mundo fica mais leve, leve, leve / então, seja um lutador, lutador, lutador / apenas viva para ver esse dia.” Talvez faltou alguém ou faltaram políticas públicas aqui no Brasil para falar ao Wellington que “isso melhora, o mundo fica mais leve, então seja um lutador e apenas viva para ver esse dia.

6 comentários:

Anônimo disse...

Que bacana esse texto. Realmente resume bem o que eu, talvez você, e muitos outros gays (ou não) passaram na escola ou em diversos locais por não seguirmos o "padrão". Não precisamos dar fim a nossa vida ou chegar a fazer algo do tipo, e sim, apenas, esperar para vermos a glória desses dias negros que passamos. Tudo passa...Relax take it easy!

Solyni disse...

Simm, é muito doloroso. Sou jovem e começo a viver o preconceito agora.É difícil acreditar que as pessoas nos julguem por algo tão pequeno na nossa vida, e se impessam de se aproximar!
Mas como disse o anonimo, isso passa, quando vê tudo o que ganha!
Deisei um lindo presente para você no meu blog!
beijos

Unknown disse...

Eh a criaçao de Deus eh um monstrinho! Quando nao fazem mal com violençia explicita, faz psicologicamente.... Eh lamentavel!

Anônimo disse...

"A tragédia na escola do Rio de Janeiro acontece num contexto bastante relevante. Em outubro de 2009, Geyse Arruda foi hostilizada por seus colegas de faculdade porque, segundo eles, ela não sabia se vestir de modo “apropriado” para freqüentar as aulas. Em junho de 2010, Bruno, goleiro do Flamengo, é suspeito de matar a ex-namorada, Elisa Samudio, por não querer pagar pensão ao filho. Suposta garota de programa, Samudio foi hostilizada na opinião de muitos brasileiros. Após rompimento, Mizael Bispo, inconformado, mata sua ex-namorada Mércia Nakashima em maio de 2010. Em novembro de 2010, grupos de jovens agridem homossexuais na Avenida Paulista, enquanto Mayara Petruso incita o assassinato de nordestinos pelo Twitter. E mais recentemente, em cadeia nacional, Jair Bolsonaro faz discurso de ódio contra homossexuais e negros. Tudo isso instigado e complementado pelo discurso intolerante, preconceituoso, conservador e mentiroso do candidato José Serra à presidência da República. A mídia? Estava ao lado de Serra, corroborando em suas artimanhas, reforçando preconceitos contra Dilma, contra as mulheres e contra os tantos mais “adversários” do candidato tucano".

Trecho de artigo publicado no Blog Viomundo que repercutiu no Blog Conversa Afiada do Paulo Henrique Amorim:

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/ana-flavia-ramos-nenhuma-escola-e-uma-ilha.html

Anônimo disse...

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5070131-EI6594,00-Os+neonazistas+sao+bem+mais+que+meia+duzia+afirma+delegado.html

Esta é uma situação pior do que se imagina. Não precisa aprovar este comentário. É importante que você leia esta entrevista!!!

Marcos Freitas disse...

Em nenhum momento, Serra, como candidado a Presidencia da Republicou motivou ou promoveu preconceito contra mulheres e nordestinos, pelo contrário, Serra repúdiou tais atos se manifestando publicamente.