O Diversidade Tucana repudia qualquer forma de violência - seja física, seja verbal. Atuamos e acreditamos no debate de ideias, visões de mundo, propostas, ações. Também não pretendemos julgar as diferentes versões do episódio e definir vítimas e algozes. Porém, acreditamos ser necessário desmitificar os acontecimentos da II Conferência Estadual LGBT de São Paulo, pois não foram meros acidentes de percurso, foram sim o resultado de escolhas. E a conclusão inevitável é de que fundamentalistas políticos do Movimento LGBT fazem tão mal à nossa causa quanto os fundamentalistas religiosos.
O machismo foi a tônica da atuação de diversos militantes da sociedade civil desde antes da abertura da conferência. E se já é inaceitável o machismo que parte de homens e pessoas de identidade de gênero masculina, o que dizer quando ele parte de mulheres? O que dizer quando alguns militantes ainda insistem em rejeitar a união do Movimento LGBT, querendo substitui-la por uma atuação segmentada, em que lésbicas não lutam junto a gays, em que gays não reconhecem a luta de travestis e transexuais, e em que ninguém realmente se importa com a invisibilidade de bissexuais?
O Movimento LGBT paulista há anos sofre recorrentes crises protagonizadas sempre pelas mesmas pessoas. Discorda-se delas, mas reconhece-se sempre seu direito à sua própria forma de atuação: pressão, acoçamento, desqualificação de adversários e a transformação do debate político em mera briga de torcidas. Porém, quando um militante se autodenomina feminista, mas, em um momento de conflito não se furta a dizer "ela não é mulher, ela é travesti", o Movimento como um todo precisa refletir. Algo está errado.
Essas mesmas pessoas estimularam cerca de vinte militantes a viajarem de Presidente Prudente (cerca de 600 km de distância da capital, praticamente a mesma distância entre São Paulo e o Rio de Janeiro) sabendo que a inscrição dessas pessoas não estava oficializada, que a princípio não teriam sequer estadia para dormirem na capital, sem organizar uma estadia solidária para esses companheiros caso o Estado não conseguisse garantir sua hospedagem. O "vale tudo" das disputas chegou ao ponto de aceitarmos o uso de "escudo humano", a tática de colocar pessoas em uma situação miserável apenas para, através de seus exemplos, pressionar outras. Não fosse a atuação dos nossos companheiros que hoje são gestores do Governo do Estado, esses vinte militantes teriam dormido dentro de seu ônibus, sem direito a refeição ou a um banho quente.
Ainda assim, essas mesmas pessoas não titubearam em puxar vaias aos representantes do Governo do Estado e até mesmo ao vídeo enviado pelo governador Geraldo Alckmin exclusivamente para a conferência, afirmando de forma inquestionável o compromisso de sua gestão com o combate à homofobia. Curioso olhar os militantes que vaiavam os aliados presentes como se fossem inimigos e, ao mesmo tempo, lembrar que as lideranças políticas chamadas de aliadas por esses militantes estavam ausentes. Mais uma prova de que, para essas pessoas, não é a atuação o que conta, mas apenas a filiação partidária.
Em tempo, também é preciso esclarecer que, ao contrário do que escrevem por aí pessoas ainda presas em uma crise esquizofrênica entre serem militantes participantes das ações e jornalistas fazendo cobertura dos eventos, apesar de tudo isso a II Conferência Estadual LGBT de São Paulo foi marcada pelo trabalho sério, pela discussão franca e engrandecedora, e resultou em um relatório final de grande qualidade propositiva. Foi, inclusive, o palco de um grande momento para o Movimento LGBT Paulista, de reafirmação contundente de sua índole democrática.
O episódio que envolveu a mulher Agatha Lima e Julian Rodrigues é, portanto, apenas a ponta de um iceberg que, em nossa opinião, o Movimento LGBT Paulista precisa reconhecer e discutir. Ou buscamos uma agenda comum de união do nosso movimento ou aprofundaremos uma espiral autofágica que há anos já vem consumindo a atuação de nossa militância. E, em nossa opinião, o primeiro ponto dessa discussão deve necessariamente ser o verdadeiro reconhecimento e visibilidade das demandas de travestis e transexuais, para que possamos sair do discurso demagógico e paternalista que tomou conta deste movimento e possamos avançar verdadeiramente em espaços de protagonismo para as TTs.
Por fim, reafirmamos nosso compromisso com a luta contra a homofobia e a favor da cidadania LGBT, de forma democrática e republicana. Acreditamos em uma nova relação da militância LGBT com seus atores partidários, de simbiose e não de subjugação. Somos um grupo partidário que luta por um Movimento LGBT independente de partidos e governos, forte, unido e com o compromisso único com a vida e os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais do Brasil.
Diversidade Tucana - Secretariado de Diversidade Sexual do PSDB
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