Tudo começou com uma conversa informal, entre amigos. Estávamos no escritório de um amigo que é médico, entre os presentes estava a Márcia, que se defini como Bruxa, mas sempre acrescenta que é uma Bruxa do bem. Márcia sempre teve um poder hipnotizador, sempre me surpreendi com o seu olhar dissimulado que tem muito a dizer, ela poderia falar com qualquer pessoa, expressar qualquer sentimento com aquele olhar morto e dissimulado. Sua beleza estava completamente fora dos padrões pré-estabelecidos pela sociedade, ela tinha seios firmes e avantajados, pernas longas e bem torneadas, boca carnuda e um olhar mórbido, encontrávamos em seu rosto as olheiras mais escuras que eu já presenciei. Aquele olhar reservava muitos mistérios, escondia alguma coisa. Hoje tenho certeza que tudo o que ela tinha, foi conquistado por aquele olhar, apesar dela fazer o tipo “mulherão” e conseguir todos os homens que desejava, ela causava arrepios, mas tudo era amenizado com um simples olhar, com aqueles olhos medonhos envolto por aquelas horríveis olheiras.
Todos da nossa turma estavam passando por momentos difíceis, aliás, sempre em alguma área da nossa vida estamos passando por algum dissabor. Eu acabara de sair de um relacionamento; meu amigo médico estava solteiro há um bom tempo e se sentia muito carente; a Isabela não estava satisfeita com a sua vida familiar; o Léo amava sem ser correspondido; a Márcia (cartomante), apesar de estar sempre com um homem diferente, também não estava satisfeita com a vida sentimental e a Estela estava passando por sérios problemas financeiros. Todos, em comum acordo resolvemos ver o que o baralho cigano preveria para as nossas vidas, a Márcia jogaria as cartas para todos e a Estela veria a previsão da Márcia na borra de café. Ficamos animados, mexer com o futuro. Brincar de ser Deus e ter a oportunidade de manipular o destino é uma idéia fascinante.
Cada um ficou incumbido de levar uma oferenda ao santo. Levamos velas coloridas, cigarros, incenso, dinheiro e xícaras. Em todos os cantos foram distribuídos os cigarros e incensos, os cigarros foram equilibrado em pé e em seguida foram acessos. No banheiro também foram colocados incenso e cigarros, pois foi dito que é no banheiro que se concentram os “espíritos sujos”, achei graça com essa colocação, mas parei de ri imediatamente quando a Márcia me repreendeu com o seu olhar, fiquei com medo, aliás, essa foi a primeira e ultima vez que tive medo da Márcia. Senti aquele olhar me alfinetando e dizendo que ali era território dela e era ela quem falava e dava as regras, logo em seguida o olhar se calou e continuamos preparando as oferendas. A Márcia forrou a mesa com um pano roxo e também acendeu velas e incenso próximo ao baralho e colocou algumas moedas ao lado como oferta ao santo. Os preparativos estavam prontos e o “jogo” já poderia começar.
O Léo estava muito inquieto com os seus conflitos e deixamos que ele fosse o primeiro na leitura das cartas, a Márcia contou algumas características de sua vida pessoal, e ele confirmou serem verdadeiras e disse que quanto a sua vida sentimental, outras vivências estavam sendo reservadas para ele e o que passou não voltaria mais; depois do Léo, foi a minha vez, ela também disse que o que passou teria que ficar no passado, mas que ela via uma reaproximação em minha vida sentimental e caminhos largos de prosperidade, a reaproximação aconteceu, os caminhos largos de prosperidade, aguardo até hoje. A vida sentimental do Fernando, também pertencia ao passado, a Isabela teria paz somente quando se desvinculasse da sua família e a Estela travaria mais algumas batalhas na sua vida profissional e financeira.
Quando a Márcia estava lendo o baralho para a Estela, ela recebeu uma “entidade”, era a “pomba-gira”. A Estela colocou uma cadeira no meio da sala e mandou que todos fizessem um circulo em volta da Márcia. Não sei o porquê ela recebeu a entidade, se foi espontâneo ou provocado, aliás, não faço a mínima idéia de como uma pessoa recebe uma entidade, se existem fatores que contribuem para isso, creio que sim. Durante a leitura das cartas para a Estela, ela mandou que abríssemos a porta do banheiro e a porta da área do escritório, disse que uma corrente de ar quente entraria pela varanda e seguiria para o banheiro e sairia do banheiro uma corrente de ar frio indo para a varanda, ela disse que essa corrente era os maus espíritos indo embora, ela mal fechou a boca, eu senti aquele ar quente vindo daquela noite fria e sombria, aquele ar subiu pelas minhas pernas, queimou o meu estomago e subiu para minha cabeça deixando-me cego e desnorteado por alguns segundos, logo após levei um choque térmico com o ar frio saindo do banheiro, meu corpo endureceu e novamente perdi os sentidos por alguns segundos. Notamos que os cigarros acessos nos cantos estavam queimando e a pontas não cairam, as cinzas permaneciam em pé, e foi assim com todos os cigarros queimados. Quando o espírito foi recebido, ela estava lendo as cartas para a Estela, não sei se o fato da Estela também ser espírita, da mesma religião que ela, contribuiu para o ocorrido. Creio que sim, pois Estela se sentia satisfeita, realizada.
O rosto da Márcia ficou “desconfigurado”, sua voz ficou rouca, parecia ser de uma mulher bem mais velha e o português já não era o utilizado por ela, na norma culta, ela falava muitas palavras erradas, os erros eram grotescos. A “pomba-gira” pediu bebida e não tínhamos nada, o “espírito” ficou decepcionado, como se fosse um absurdo não termos bebida, a Estela desesperou-se e ofereceu cigarro, ela aceitou. Depois chamou um por um no meio da roda e deu um recado para cada um, e quando fazíamos alguma pergunta, ela dizia para perguntarmos ao “cavalo”, depois soube que “cavalo” é o dono do corpo que o “espírito” está fazendo uso. A Estela ficou batendo palmas e estralando os dedos acima da cabeça da Márcia, em dado momento uma corrente que estava no pescoço da Estela se rompeu e caiu no chão, ela disse que aquele foi um presente de uma pessoa indesejada e ela não sabia o que fazer para se livrar dele, ela comemorou, dizendo que agora estava livre do presente. A Márcia começou a se sentir mal, a Estela começou a bater palmas mais fortes e estralar os dedos com mais intensidade, além de emitir um ruído no ouvido da Márcia, depois de alguns minutos o espírito foi embora e ela quase caiu. Ela pediu para ajudarmos ela voltar para frente do baralho senão os olhos dela se fechariam e ela não veria mais nada, então, ela terminou de ler as cartas para a Estela.
Para cartomante, a Estela leu a borra de café. Ela colocou pó de café e água, depois retirou a água e formou-se a borra, naquele desenho que se formou na xícara, estava à previsão da Márcia, que não era satisfatória para a sua vida sentimental. Terminada a leitura, retiramos tudo o que foi usado no trabalho, pontas e cinza de cigarro, moedas, incensos e velas e fomos para uma encruzilhada. Na encruzilhada colocamos todos aqueles resíduos no meio da rua e as xícaras foram arremeçadas ao centro. Quando estávamos indo embora, a Estela disse para observarmos os nós que estavam sendo feitos e ela falava que tinha dó das pessoas que cruzassem os nossos caminhos, Márcia olhou para ela, foi um olhar que me deu arrepios e imediatamente Estela se calou. Eu não estava vendo nó algum, ninguém estava vendo e terminado o episódio, Márcia disse que a Estela exagerou e que não é habitual isso acontecer numa leitura de cartas. Márcia era uma bruxa do bem e depois desse episódio percebi que Estela era uma bruxa do mal.
Todos da nossa turma estavam passando por momentos difíceis, aliás, sempre em alguma área da nossa vida estamos passando por algum dissabor. Eu acabara de sair de um relacionamento; meu amigo médico estava solteiro há um bom tempo e se sentia muito carente; a Isabela não estava satisfeita com a sua vida familiar; o Léo amava sem ser correspondido; a Márcia (cartomante), apesar de estar sempre com um homem diferente, também não estava satisfeita com a vida sentimental e a Estela estava passando por sérios problemas financeiros. Todos, em comum acordo resolvemos ver o que o baralho cigano preveria para as nossas vidas, a Márcia jogaria as cartas para todos e a Estela veria a previsão da Márcia na borra de café. Ficamos animados, mexer com o futuro. Brincar de ser Deus e ter a oportunidade de manipular o destino é uma idéia fascinante.
Cada um ficou incumbido de levar uma oferenda ao santo. Levamos velas coloridas, cigarros, incenso, dinheiro e xícaras. Em todos os cantos foram distribuídos os cigarros e incensos, os cigarros foram equilibrado em pé e em seguida foram acessos. No banheiro também foram colocados incenso e cigarros, pois foi dito que é no banheiro que se concentram os “espíritos sujos”, achei graça com essa colocação, mas parei de ri imediatamente quando a Márcia me repreendeu com o seu olhar, fiquei com medo, aliás, essa foi a primeira e ultima vez que tive medo da Márcia. Senti aquele olhar me alfinetando e dizendo que ali era território dela e era ela quem falava e dava as regras, logo em seguida o olhar se calou e continuamos preparando as oferendas. A Márcia forrou a mesa com um pano roxo e também acendeu velas e incenso próximo ao baralho e colocou algumas moedas ao lado como oferta ao santo. Os preparativos estavam prontos e o “jogo” já poderia começar.
O Léo estava muito inquieto com os seus conflitos e deixamos que ele fosse o primeiro na leitura das cartas, a Márcia contou algumas características de sua vida pessoal, e ele confirmou serem verdadeiras e disse que quanto a sua vida sentimental, outras vivências estavam sendo reservadas para ele e o que passou não voltaria mais; depois do Léo, foi a minha vez, ela também disse que o que passou teria que ficar no passado, mas que ela via uma reaproximação em minha vida sentimental e caminhos largos de prosperidade, a reaproximação aconteceu, os caminhos largos de prosperidade, aguardo até hoje. A vida sentimental do Fernando, também pertencia ao passado, a Isabela teria paz somente quando se desvinculasse da sua família e a Estela travaria mais algumas batalhas na sua vida profissional e financeira.
Quando a Márcia estava lendo o baralho para a Estela, ela recebeu uma “entidade”, era a “pomba-gira”. A Estela colocou uma cadeira no meio da sala e mandou que todos fizessem um circulo em volta da Márcia. Não sei o porquê ela recebeu a entidade, se foi espontâneo ou provocado, aliás, não faço a mínima idéia de como uma pessoa recebe uma entidade, se existem fatores que contribuem para isso, creio que sim. Durante a leitura das cartas para a Estela, ela mandou que abríssemos a porta do banheiro e a porta da área do escritório, disse que uma corrente de ar quente entraria pela varanda e seguiria para o banheiro e sairia do banheiro uma corrente de ar frio indo para a varanda, ela disse que essa corrente era os maus espíritos indo embora, ela mal fechou a boca, eu senti aquele ar quente vindo daquela noite fria e sombria, aquele ar subiu pelas minhas pernas, queimou o meu estomago e subiu para minha cabeça deixando-me cego e desnorteado por alguns segundos, logo após levei um choque térmico com o ar frio saindo do banheiro, meu corpo endureceu e novamente perdi os sentidos por alguns segundos. Notamos que os cigarros acessos nos cantos estavam queimando e a pontas não cairam, as cinzas permaneciam em pé, e foi assim com todos os cigarros queimados. Quando o espírito foi recebido, ela estava lendo as cartas para a Estela, não sei se o fato da Estela também ser espírita, da mesma religião que ela, contribuiu para o ocorrido. Creio que sim, pois Estela se sentia satisfeita, realizada.
O rosto da Márcia ficou “desconfigurado”, sua voz ficou rouca, parecia ser de uma mulher bem mais velha e o português já não era o utilizado por ela, na norma culta, ela falava muitas palavras erradas, os erros eram grotescos. A “pomba-gira” pediu bebida e não tínhamos nada, o “espírito” ficou decepcionado, como se fosse um absurdo não termos bebida, a Estela desesperou-se e ofereceu cigarro, ela aceitou. Depois chamou um por um no meio da roda e deu um recado para cada um, e quando fazíamos alguma pergunta, ela dizia para perguntarmos ao “cavalo”, depois soube que “cavalo” é o dono do corpo que o “espírito” está fazendo uso. A Estela ficou batendo palmas e estralando os dedos acima da cabeça da Márcia, em dado momento uma corrente que estava no pescoço da Estela se rompeu e caiu no chão, ela disse que aquele foi um presente de uma pessoa indesejada e ela não sabia o que fazer para se livrar dele, ela comemorou, dizendo que agora estava livre do presente. A Márcia começou a se sentir mal, a Estela começou a bater palmas mais fortes e estralar os dedos com mais intensidade, além de emitir um ruído no ouvido da Márcia, depois de alguns minutos o espírito foi embora e ela quase caiu. Ela pediu para ajudarmos ela voltar para frente do baralho senão os olhos dela se fechariam e ela não veria mais nada, então, ela terminou de ler as cartas para a Estela.
Para cartomante, a Estela leu a borra de café. Ela colocou pó de café e água, depois retirou a água e formou-se a borra, naquele desenho que se formou na xícara, estava à previsão da Márcia, que não era satisfatória para a sua vida sentimental. Terminada a leitura, retiramos tudo o que foi usado no trabalho, pontas e cinza de cigarro, moedas, incensos e velas e fomos para uma encruzilhada. Na encruzilhada colocamos todos aqueles resíduos no meio da rua e as xícaras foram arremeçadas ao centro. Quando estávamos indo embora, a Estela disse para observarmos os nós que estavam sendo feitos e ela falava que tinha dó das pessoas que cruzassem os nossos caminhos, Márcia olhou para ela, foi um olhar que me deu arrepios e imediatamente Estela se calou. Eu não estava vendo nó algum, ninguém estava vendo e terminado o episódio, Márcia disse que a Estela exagerou e que não é habitual isso acontecer numa leitura de cartas. Márcia era uma bruxa do bem e depois desse episódio percebi que Estela era uma bruxa do mal.
6 comentários:
Medo!
fear!
miedo!
:O
Também fiquei com medo, apesar de ser cético e ateu.... risos.... o texto está muito bom!
Beijos,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
Fiquei arrepiado com a história... mas acredito muito nestas coisas, tem um post sobre bruxas no meu blog em que passo por questões não explicadas tambem.
E como diz o filosofo, a mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia.
bjs do Lico
Pé de pato, mangalô, três vezes! kkk
parabéns . belo texto . de bruxas e bruxous bem como de bem e mal todos nós temos um pouco . como conduzimos isto em nossas vidas é que é a questão . abração amigo.
desconfie de toda pessoas (homem ou mulher) que se diga bruxo/a "do bem". esse tipo de preocupação manique´sita não existe no Ofício. simplesmente uma "bruxa do bem" não invocaria um "espírito sujo" (aliás, vc fez certo em achar graça de que tal ente estivesse em um banheiro). infelizmente existe muita gente que confunde bruxaria com umbanda, candomble, quimbanda. apesar de ter coisas correlatas, tem diferenças e o principal são as diferenças. pelo q vc relatou, a pessoa não era preparada, mas tinha alguma mediunidade. só podia dar revertério. espero que o evento não te tire do caminho da Arte.
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