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- Tio, eu queria ter lhe dado um presente do Corinthians, mas a minha mãe não deixou eu comprar – disse a minha sobrinha ao me entregar um presente de aniversário.
- O que você queria me dar? – perguntei.
- Um caneco lindo do Corinthians – disse entusiasmada. – Eu queria ser corintiana, mas a minha mãe não deixa – completou desolada. Depois refleti e me perguntei: Haverá um dia em que o Estatuto da Criança e do Adolescente irá garantir o direito das crianças escolherem o seu time de futebol? Não sei, talvez seja provável que aconteça.
- Larissa, se você virar bandeira e se tornar corintiana, irá levar uma surra – ameaçou a minha irmã alterada.
- Mas mãe, eu já estou cansada de ser são paulina, só o Corinthians ganha, eu não agüento mais – desabafou.
- Não é para virar corintiana, não pode virar bandeira, tem que torcer para o São Paulo, pois você nasceu são paulina – penitenciou a minha irmã.
- Mãe, o São Paulo só perde, ele já foi campeão brasileiro, o que mais você quer? Agora tem que deixar o Corinthians ganhar. Todos riram.
- Não liga não Larissa, quando você crescer, poderá torcer pelo time que você quiser – confortei a minha sobrinha.
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A cada geração e em todas as famílias as histórias se repetem. Futebol e religião são valores muito pessoais, muitos herdam essas predileções, outros, quando ganham discernimento vão torcer por outro time e passam a acreditar em outras crenças e/ou às vezes em nenhuma. O João Victor está para chegar e pelo menos até a adolescência ele já tem time de futebol e religião, entretanto, suas reais preferências por esportes ou crenças se concretizarão somente quando ele tiver a opção de escolher. Hoje a minha irmã ganhou uma fralda do São Paulo, pode ter certeza que ela a guardará para sempre, não sei se será para o orgulho ou para a decepção do João Victor. Quanto a Larissa, não precisamos analisar muito para concluirmos: Ela é corintiana, porém, terá que torcer em silêncio.
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9 comentários:
Marcos, que post fantástico! De uma sensibilidade que eu estou para conhecer...Muito legal mesmo!
Por mais que seu texto beire a inocência de uma criança, provaca reflexões mil... Eu mesma, fiquei aqui a pensar quantas vezes sustentei alguma opinião em silêncio, quantas vezes fui podada por algo maior. Sua sobrinha está experimentado a fluir dentre tantas limitações que ainda acontecerão....
Adorei!
Mesmo sendo são paulino.
(risos)
E o mais legal ainda é que nessa idade a criança dá de presente o que a agrada e não o que pode agradar o presenteado.
(risos)
Uma vez, vendo-me muito aflito e triste, minha sobrinha foi ao quarto, pegou a Barbie mais bonita que tinha e me deu. (risos) Era o "calmante" que ela conhecia.
Um abraço grande Marcos.
Parabéns pelo texto.
Adorei.
Mister Man
a gente leva até a adolescência a religião, o time de futebol, e a orientação sexual que os adultos escolhem pra gente, a diferença é que essa não costuma variar, rs. ótimo post.
Torcer em silêncio!
Muito impactante!
Eu venho de uma familia flamenguista de pai e curintiano de mãe e avô.
Mas não torço pra ninguém!
Venho de uma família de religiosos, mas não professo nenhuma fé!
Que coisa, não?!
Pelo menos cheguei na minha fase de torcer à toda voz!!!
:D
Marcos, uma graça sua sobrinha, mas tá certa ela falar isso pra você, afinal só Corinthias ganha, oras(rs). Falando em criança, vc viu o caso da menina Maisa? Dizem o Conselho Estadual dos Direitos da Criança quer tirar o quadro dela do programa do Silvio Santos, devido os constrangimentos com a menina.
abçs...
A Larissa é linda e inteligentérrima, como o tio.
Adorava quando ela atendia o telefone e me tratava melhor que muito adulto, educada e corretíssima.
é uma honra ter uma sobrinha assim e espero que vocês sempre estimulem todas essas grandes qualidades que a Larissa tem, o futuro promete.
Felicidades,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
Jean,
Não cheguei a ver. Eu acho a Maisa fenomenal, uma criança super inteligente, mas também me preocupo com o seu estado precose, isso pode ocasionar sequelas.
Essa é das minhas, também sou corintiano. Ela filha da sua irmã, em quantos irmãos vocês são?
Olá Rodrigo, tudo bem?
Sim, ela é filha da minha irmã. Somos em três, tenho duas irmãs.
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