A memória brasileira parece formada apenas por homens e mulheres, mas há muito na História oficial que é desconhecido. Poucos sabem, por exemplo, que durante a ditadura, em plena década de 1960, entre militares, revoltas estudantis e muita repressão, viveu Salomé, uma transformista que transgrediu os valores de sua geração. A artista iniciou sua carreira nos anos 1940 e passou pelos momentos históricos mais conservadores do Brasil, sem medo de impor sua sexualidade e sua aura de artista.
E é sobre a vida dessa injustamente esquecida heroína da história LGBTT brasileira que o espetáculo "Rosas Brancas para Salomé" volta ao palcos na capital paranaense. Salomé é uma diva do transformismo, sonhadora, sensível, alegre, divertida e ao mesmo tempo melancólica e solitária, apaixonada pela cantora Ângela Maria. Ela usa a fantasia para disfarçar as angústias, o medo e a solidão. Após o seu show, revive diversos fatos marcantes da sua vida, alguns bem humorados, outros emocionantes, num divertido desabafo em plena noite de Natal.
O espetáculo retrata claramente que o sentimento de solidão pode estar presente em qualquer lugar ou situação, até mesmo durante uma festa com os amigos ou dentro de casa com a própria família. Sabemos que todas as fases de passagem pela vida física nos trazem muitas experiências, onde tudo é passageiro e não permanente, portanto, todas as situações, os encontros e os fatos da vida surgem, permanecem por algum tempo e se vão. Por isso, Salomé, além de mostrar a solidão da personagem e os conflitos de sua existência, propõe também uma reflexão para construir valores como a amizade, a generosidade, respeito e o amor próprio independente da sua condição sexual, religião, cor ou classe social.
No mundo de hoje o que mais se espera é que as pessoas valorizem cada vez mais o ser humano em sua plenitude e com certeza quem assiste ao espetáculo "Rosas Brancas para Salomé" vai entender que muitas coisas na nossa vida são deixadas para depois e quando menos se espera já não influencia mais em nada, como um sorriso, um abraço, um afago, um carinho, um beijo ou até mesmo um pedido de desculpa . Nesse espetáculo, cada um de nós pode se identificar em algum momento ou situação dessa vida divertida e emocionante de Salomé, que, apesar de tudo se revela cada vez mais humana, fazendo um convite à reflexão sobre a forma superficial de ver aqueles que nos parecem diferentes.
Serviço:
Rosas Brancas para Salomé
Memorial de Curitiba no Largo da Ordem
Largo da Ordem, s/n - Centro
Dia 02/04 - 22:00
Dia 03/04 - 13:00
Dia 06/04 - 13:00
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