Morte e Vida Severina – auto de Natal pernambucano é um dos textos mais importantes de João Cabral de Melo Neto e se insere num conjunto de poemas dramáticos que discorrem sobre a vida do retirante do Sertão pernambucano. Como o subtítulo indica, é um auto de Natal feito a pedido de Maria Clara Machado (considerada uma das maiores autoras de teatro infantil brasileiro), então diretora do grupo O Tablado no Rio de Janeiro. O auto foi escrito entre 1954 e 1955, mas a montagem teatral que consagrou o texto no Brasil foi a que estreou em 11 de Setembro de 1965 no auditório Tibiriçá da PUC-SP – TUCA – que, ao contrário dos temores do autor, foi grande sucesso de público e crítica.
Morte e Vida Severina, poema construído com versos heptassilábicos (medida velha, redondilho maior), se integra com outras obras que abordam sempre a mesma realidade do Sertão pernambucano e sua gente ao longo do rio Capibaribe, cada obra com um diferente ponto de vista. Assim, por exemplo, enquanto este auto conta a história do retirante que se desloca do Sertão seguindo o rio, temos também o poema O Rio, que conta a história na perspectiva do rio Capibaribe.
Estruturalmente o poema está dividido em dezoito partes e dois grandes momentos. Até a parte nove Severino, o protagonista, se desloca para o Recife, seguindo sempre o rio Capibaribe. O que move o retirante é a esperança de defender sua “vida da tal velhice que chega antes de se inteirar trinta”. A esperança é modesta e poucos anos menos sofridos que se acrescentassem bastariam. Em seu trajeto o retirante se defronta com a seca do rio e tenta se guiar por leves marcas do leito do rio deixadas no chão crestado pelo sol. O fino rio que atravessa várias vilas e arruados, tal como o fio que atravessa as contas de um terço, leva o retirante se sentir como que a “rezar tal rosário até o mar onde termina”. No segundo momento do auto, a partir da parte dez, o retirante está no Recife (em uma favela ribeirinha dos arredores da cidade) e percebe que mesmo ali não há para ele outra vida, a não ser aquela que conheceu durante todo o percurso, a vida severina. No poema está constantemente presente os pólos opostos definidos no título, que em muitos momentos, como numa moeda, parecem ser duas faces da mesma realidade: a morte e a vida. Mas a vida que o retirante conhece no serão e encontra no Recife nunca é mais que a “vida severina”, “aquela vida que é menos vivida que defendida” e que “é ainda mais severina para o homem que retira”.
Em Morte e Vida Severina encontramos as preocupações sociais que já haviam sido levantadas no regionalismo da década de 1930, por autores como José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, mas a novidade do texto de João Cabral de Melo Neto estava forma literária escolhida. Aqueles autores escreviam fazendo uso da língua culta e de e narrativas refinadas que muitas vezes contrastavam com a linguagem popular das personagens. No auto de João Cabral de Melo Neto o narrador é o próprio retirante, que descreve sua experiência em sua própria linguagem e fazendo uso de uma forma literária que se assemelha ao cordel, tipo de obra típico do Nordeste.
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Morte e Vida Severina, poema construído com versos heptassilábicos (medida velha, redondilho maior), se integra com outras obras que abordam sempre a mesma realidade do Sertão pernambucano e sua gente ao longo do rio Capibaribe, cada obra com um diferente ponto de vista. Assim, por exemplo, enquanto este auto conta a história do retirante que se desloca do Sertão seguindo o rio, temos também o poema O Rio, que conta a história na perspectiva do rio Capibaribe.
Estruturalmente o poema está dividido em dezoito partes e dois grandes momentos. Até a parte nove Severino, o protagonista, se desloca para o Recife, seguindo sempre o rio Capibaribe. O que move o retirante é a esperança de defender sua “vida da tal velhice que chega antes de se inteirar trinta”. A esperança é modesta e poucos anos menos sofridos que se acrescentassem bastariam. Em seu trajeto o retirante se defronta com a seca do rio e tenta se guiar por leves marcas do leito do rio deixadas no chão crestado pelo sol. O fino rio que atravessa várias vilas e arruados, tal como o fio que atravessa as contas de um terço, leva o retirante se sentir como que a “rezar tal rosário até o mar onde termina”. No segundo momento do auto, a partir da parte dez, o retirante está no Recife (em uma favela ribeirinha dos arredores da cidade) e percebe que mesmo ali não há para ele outra vida, a não ser aquela que conheceu durante todo o percurso, a vida severina. No poema está constantemente presente os pólos opostos definidos no título, que em muitos momentos, como numa moeda, parecem ser duas faces da mesma realidade: a morte e a vida. Mas a vida que o retirante conhece no serão e encontra no Recife nunca é mais que a “vida severina”, “aquela vida que é menos vivida que defendida” e que “é ainda mais severina para o homem que retira”.
Em Morte e Vida Severina encontramos as preocupações sociais que já haviam sido levantadas no regionalismo da década de 1930, por autores como José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos, mas a novidade do texto de João Cabral de Melo Neto estava forma literária escolhida. Aqueles autores escreviam fazendo uso da língua culta e de e narrativas refinadas que muitas vezes contrastavam com a linguagem popular das personagens. No auto de João Cabral de Melo Neto o narrador é o próprio retirante, que descreve sua experiência em sua própria linguagem e fazendo uso de uma forma literária que se assemelha ao cordel, tipo de obra típico do Nordeste.
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2 comentários:
Como diz João Cabral de Melo Neto: "um galo sozinho não tece uma manhã"
Funeral de um Lavrador
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque de Hollanda / João Cabral de Mello Neto
Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada, não se abre a boca.
Beijos,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
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