
A chegada do príncipe ao Brasil não trouxe alvoroço a comunidade gay, talvez seja por falta de divulgação, ou pelo não reconhecimento dos gays brasileiros diante de suas conquistas. Sabemos que a sociedade indiana é altamente homofobica, e como apontou o relatório do Mapa da Homofobia desenvolvido pela Ilga Internacional e que naquele país, a homossexualidade é reprimida pela força da lei, conforme o Código Penal Indiano de 1860 que diz: “Todo indivíduo que voluntariamente tiver relação sexual tida como contra a ordem natural da natureza, com homem, mulher ou animal, será punido 1* [prisão perpétua], ou por prisão de ambas descrições por um período de no máximo dez (10) anos, e ficará também sujeito a pagamento de multa.” Diferente do Brasil, na Índia, o ato de penetração anal já caracteriza ato sexual. Assumir-se gay num país onde a homossexualidade é tão estigmatizada, é um ato de muita coragem.

Em relação à família, os tratamentos são todos formais. Ele se dirige a seus pais como “Sua Alteza” e seus pais os tratam como “Príncipe”. Quando ele precisa conversar com o seu pai, primeiro ele tem que conversar com um dos seus assessores e marcar uma audiência. Devido esse distanciamento familiar o anúncio de sua homossexualidade não foi um grande desgosto. Seu pai retirou o seu titulo de príncipe herdeiro e o deserdou e a sua mãe publicou um anuncio em jornais ameaçando processar quem dissesse que o príncipe gay era seu filho. A deserção foi pressionada por outros membros da família, mas posteriormente foi considerada ilegal pelo Supremo Tribunal da Índia.

Assim como em muitos casos, o príncipe imaginou que o casamento mudaria a sua orientação sexual. Imaginava que era uma fase. Varias princesas foram-lhe apresentadas, mas o que ele queria, era um príncipe, ou até mesmo um sapo, mas nada de princesas. Ele acabou casando-se em 1991 com a princesa Chandrika Kumari. Ele tinha 25 anos e ela 22, era uma relação de carinho, de irmãos, o ato sexual não chegou a ser consumado. Foram 15 meses de relacionamento fracassado. Sua ex-esposa imaginava que ele tinha outra mulher, depois percebeu que ele não tinha ninguém. Em 1992 o casamento foi anulado, pois foi provado que ela continuava virgem e que ele não era impotente. Ao sair do palácio, sua ex-mulher pediu para que ele não fizesse nenhuma outra mulher infeliz, foi então que ele resolveu não se casar novamente.
Por volta de 2000, começou a circular uma publicação editorial chamada Bombay Dost (Amigo de Bombaim) voltada para o público gay. Sua tiragem era limitada e o príncipe comprava e lia as escondidas. Ele começou a se corresponder com outros leitores através de codinomes e um dia telefonou para um dos seus correspondentes, foi assim que ele conheceu o Ashok Row Kavi, o diretor de Bombay Dost, e o primeiro ativista gay da Índia. Foi Ashok que retirou o sentimento de culpa e o peso na consciência que havia no príncipe, foi através dessa amizade que ele percebeu que ser gay é normal. Ainda no ano de 2000, o príncipe e mais 60 militantes gays, e na presença de representantes do governo, fundaram a Lakshya Trust, a primeira organização de prevenção contra o HIV/sida voltada para a comunidade gay de Bombaim. Depois da África do Sul, a Índia é o país que tem o maior numero de infectados pelo vírus HIV. O príncipe doa 65% dos seus rendimentos à instituição e seu próximo projeto é abrir um hospício voltado para doentes terminais.

4 comentários:
linda a história. devia virar filme.
bjs do Lico
Excelente e oportuno seu texto, Marcos. Penso que, respeitadas as devidas proporções, todos nós já passamos pelo que o Príncipe passou. O ótimo é que ele se assumiu, siu do armário e está aí, dando exemplo e abrindo possibilidades. Também adorei a avó dele, tem sempre uma avó que é legal, não é? Mesmo que sem querer....
Beijos,
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
Eu já tinha ouvido falar alguma coisa sobre ele, é incrível mesmo. Um príncipe gay assumido, ainda por cima indiano. A coragem dele é realmente incrível.
E já tinha lido sobre ele. Com certeza, pode ser tomado como exemplo.
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