Morei por algum tempo no Bairro do Pari, bem ao lado de uma
Igreja Congregação Cristã. Adorava acordar aos domingos, pela manhã,
com a orquestra da igreja ensaiando. Achava tudo aquilo harmonioso. Trompetes,
clarinetas, violinos, saxofones e tantos outros instrumentos, como se fosse um
só, tocando a mesma sinfonia, o mesmo ritmo, todos sincronizados no mesmo
tempo.
A música tem um caráter
renovador, sua magia tem o poder de emocionar e transformar até os corações
mais enjaulados. Tentei inserir a música em minha vida, por algum tempo fiz
aulas de saxofone e descobri que música é para quem tem o dom e passei a admirar
ainda mais quem tem sucesso com essa arte.
Depois, trabalhei por algum tempo na Secretaria de Estado da
Cultura, localizada na Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de
São Paulo – OSESP. Costuma almoçar no restaurante da Sala São Paulo e adorava
quando o horário coincidia com os ensaios da orquestra. No prédio, a OSESP
colocava várias placas pedindo silêncio, nem precisava, ninguém seria capaz de
interromper toda aquela maravilhava que emanava naquele prédio.
Assisti alguns concertos na Sala São Paulo, um deles foi com
a minha irmã, quando a Maestrina Marin Alsop assumiu a direção da orquestra.
Foi um momento mágico e emocionante, principalmente quando tocou “Fantasia”,
uma das composições mais lindas da música clássica.
No primeiro andar da Secretaria de Cultura, dá para
ouvir a orquestra ensaiando e trabalhar naquele lugar era sempre uma surpresa
muito boa, a entrada de todas as estações do ano sempre eram saudadas com um
concerto e os maestros faziam questão de interagir com os funcionário, teve uma vez que eu pedi para ele tocar a música “Viva La Vida”, do Cold Play.
Também vejo nossas vidas como uma grande sinfonia, onde nos
somos os instrumentos, tocando no nosso ritmo, de acordo com o nosso
entusiasmo. O maestro é sempre um ser oculto, a própria vida, que nem sempre dá o tom da
melodia e está lá para colocar ritmo... Esse papel é nosso, junto com os outros
instrumentos que nos rodeiam.
Colocar ritmo na sinfonia da vida não é um trabalho fácil,
tem que ter vontades bilaterais, trilaterais ou quadrilaterais, tudo dependo do
tipo de relacionamento que estamos construindo e nem sempre todos os
instrumentos estão vivendo aquele ritmo, compactuando da mesma motivação.
Às vezes a sinfonia é tão forte, que toca em
nossas almas, mas será se tocou da mesma forma no outro? Não sabemos e talvez
nem seja o nosso papel tentar descobrir ou impor o mesmo ritmo que estamos
vivendo ou almejando viver, no outro. Sinfonia boa é aquela que deciframos no
olhar, no tocar dos lábios e abraçar das almas, aquela que mesmo sem regente
ou maestro, entramos no ritmo mais uniforme e coeso, tão arrebatador como os
ensaios da igreja vizinha da minha casa ou da Sala São Paulo.
Quero viver uma sinfonia tão linda e marcante, como a “Fantasia”,
tocada na ocasião que a Maestrina Marin Alsop assumiu a OSESP, uma sinfonia
calma, tranqüila e arrebatadora, mas nos momentos certos tem suas explosões,
levando aos mais diversos sentimentos , nos proporcionando sensações indescritíveis.
Gostaria muito que a vida me presenteasse com a possibilidade de reviver
algumas sinfonias, que naquele momento havia ritmo, mas não a motivação.
Talvez também seja nosso papel motivar o ritmo alheio, ou talvez, temos que
esperar a vida, nossa grande maestrina, trazer outras sinfonias.
Um comentário:
Marcos,
Fico feliz que tenha voltado a escrever no blog. Ainda mais sobre um tema que acho muito interessante: a relação da música com a vida.
Por diversos momentos recorro à música como forma de fuga. Digo que ela me entende muito mais do que muitas pessoas. Parece estranho, mas é verídico para mim.
As músicas marcam. Sempre teremos aquelas músicas que lembrarão pessoas, momentos ou algo que passou e, talvez hoje, não faz mais parte de nossas vidas, mas que permanece como ponte entre os tempos.
Deixo aqui algumas associações pessoais:
Músicas que:
1) me lembra de uma pessoa e me deixa saudades hoje: The wanted - Glad you came.
2) dor de um fato ocorrido dentro de um relacionamento vivido: Pink - Just give me a reason
3) filosofia de vida: Justin Timberlake - what goes around, comes back around.
Enfim, espero que continue a escrever. Admiro a sua inteligência e forma de se expressar.
Abraço,
Eduardo Kanazawa
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