Ela destruiu com todos os meus sonhos – ele me disse enquanto tomava outro gole de cerveja. Nós tínhamos planos de um dia ir morar na praia, fazer viagens, ter outro filho e viver nossa vida – completou enquanto enchia outro copo. Fazia muito tempo que não via o meu primo, acredito que mais de 5 anos. Sempre fomos grandes amigos e depois que ele morou alguns meses em casa, nos tornamos confidentes, nossa amizade se fortaleceu.
Certa vez, sai de casa para um desses encontros de internet e chegando no local, percebi que fui novamente enganado. Depois de anos e anos como usuário de internet, eu ainda não tinha me acostumado com o fato das pessoas mentir. Naquele dia, quando eu coloquei os pés em casa, ele me perguntou: O que você tem? Porque está assim? Confesso que senti um bem estar tão grande naquele momento, meu primo, o cara que fazia a linha hétero pegador e talvez até pagava de homofobico para os amigos, era sensível. Eu olhei para ele e disse: Não é nada. Ele não se convenceu e me encheu até eu contar que fui num encontro de internet e me frustrei.
Dessa vez, quando o que vi, senti que algo estava muito errado com ele. Mesmo depois de tanto tempo, ainda tínhamos uma conexão que não permite segredos entre nós. No centro da cidade, parei para fazer um telefonema, ao desligar ele me pergunta: O que foi que aconteceu? Disse que eram problemas sentimentais, o meu namorado na época ficou magoado pelo fato de eu não ter dado noticias por 3 dias. Era véspera de natal e tanto eu como ele estávamos no mesmo barco, sofrendo por amor ou pela falta dele.
Sabe, ela me colocou para fora de casa, ficou com o carro e eu fiquei com a moto – ele desabafou enquanto acenava para o garçom trazer outra cerveja. E como se não bastasse, ela também ficou com a barraca de camping que ele usava para passar feriados prolongados em Lorena, com a yogurteira e com a chopeira. Fato é: tudo isso seria amenizado, se a ex-mulher não impedisse o meu primo de ver a filha dele. Esse porre tem quase dois anos e até hoje ele tem dificuldades para ver a filha.
Eu adorava encher o saco do meu primo, quando ele veio para São Paulo, também estava sofrendo por amor, aliás, tenho a impressão que sempre estamos sofrendo desse mal, que na verdade deveria ser um bem. Ele tinha acabado de sair de uma relação, com uma menina chamada Camila e eu ficava cantando a música Camila da Banda Nenhum de Nós. Sei que isso é cruel, mas eu cantava. No fundo, fazia isso para ajuda-ló sair do abismo chamado “fim do amor”.
Depois do natal, fizemos uma viagem longa. Fomos de Itaúna do Sul à São Tomé, contando ida e volta, foram aproximadamente 6 horas dirigindo. Na volta, entramos em Londrina e passamos na frente da casa da ex-mulher dele, ele queria ver a filha, nem que fosse rapidamente, mas não tinha movimento algum em frente a casa. Seguimos viagem. Durante o percurso, ouvimos muito Capital inicial, na época que ele esteve em São Paulo, ouvíamos muito essa banda e ficamos lembrando das nossas baladas no Cabral, Fabrica 5 e Level, sim, o meu primo ia comigo em baladas gays e até num ambiente com a predominância masculina, ele sempre arrumava uma menina para beijar.
Hoje, senti muita falta dele, daria tudo para estar numa mesa de bar, conversando, dando risadas e lamentando. Ele está morando na Bahia, mas já combinamos de passar no Ano Novo juntos, no Paraná. O que o meu primo me disse há quase dois anos, naquele bar, me fez sentido hoje: Ela destruiu com os meus sonhos. Assim como ele se viu naquele momento, eu me vejo hoje, com os sonhos destruídos.
Meus sonhos - destruídos - não são tão diferentes dos dele. Planejei finais de semanas; viagens de fim de ano; cada um com um carro, e no rodízio revisaríamos a carona; a reforma e decoração do apartamento, enfim, assim como ele, também idealizei uma vida. Certa vez um amigo me disse que os sonhos não morrem, só mudamos o foco e passamos a ter os mesmos sonhos, que nada mais são que projetos e objetivos, com outra pessoa.
Meu lamento está muito acima dos sonhos destruídos. Lamento pela forma cruel que esses sonhos foram expelidos de minha vida, não deixando vasão alguma para uma amizade sadia. Lembro-me de termos ditos em diversos momentos: Se um dia nos separarmos, seremos para sempre amigos. O que são dito em bons momentos, são trocas de afeto que acontecem quando estamos bem, mas isso não significa que tais promessas correspondem com a verdade. O fato de hoje, não almejar nem uma amizade com aquela pessoa que um dia eu jurei dar a vida, me entristece. São mais que sonhos destruídos, são vidas. A morte de tudo que um dia viria acontecer. De momentos felizes, mortos prematuramente e outros que nem ganharam a vida, fruto de um aborto-sentimental.
4 comentários:
Ah, o amor... a gente sempre fica nessa de precisar dele. A gente, primeiro, precisa da gente mesmo =)
me tocou profundamente esse seu post sr. marcos sobre essa desgraça que abateu a sua vida afetiva, desculpe se estou invadindo a sua privacidade mas por favor vc poderia ser um pouco mais direto sobre como, oq e pq se ocasionou um rompimento tão violento nas relações afetivas entre vcs!
Bruno,
Apenas incompatibilidade de gênio, as pessooas não são iguais. Tudo tem um começo, meio e fim. O nosso tempo foi esse, com alguns agravantes que não sobrou margem para amizades. Acontece.
mas msm assim é lamentavél esse termino de relacionamento entre vcs, alguns poucos casais conseguem ficar juntos por toda vida. espero que um dia encontre esse amor, que tanto quer!!
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