Estava na tensão da apuração do resultado das eleições, no Comitê do Vereador Floriano Pesaro, quando um amigo comentou que em Lins, município a 429 quilômetros de São Paulo, tinha sido eleito um Prefeito muito transversal que questão dos Direitos Humanos, em especial na defesa da população LGBT. Naquele momento comecei pesquisar quem era Edgar Souza.
Tomei as medidas inicias para quem quer acompanhar de perto o trabalho de um político. Comecei a segui-lo no Twitter e curti sua página no Facebook. Me chamou muito a atenção quando comecei a ver suas postagens e confirmei o que foi dito no inicio. Me orgulha em saber que Edgar faz parte do meu partido, da linha ideológica que eu acredito.
Convidei o prefeito para aprofundar alguns temas que estão em discussão na mídia nacional. Abordando a questão dos Direitos Humanos, avanços nas Políticas Públicas para a população LGBT, posicionamentos fundamentalistas de algumas figuras públicas e a rotina política na cidade de Lins. Confira na íntegra a entrevista:
Passageiro - Como foi que você ingressou na vida pública?
Edgar Souza - Meu ingresso na vida pública se deu muito cedo. Tenho uma militância desde minha adolescência na pastoral da juventude e nos movimentos populares e ali construí meu compromisso com a superação dessa sociedade, participando ativamente da construção de uma nova sociedade, mais humana, solidária, fraterna e igualitária .
Participei do movimento estudantil, de movimento de bairro, mas sobremaneira foi a militância cristã que me impulsionou a entrar na política partidária e a disputar um mandato para levar adiante o sonho de sociedade que acredito. Dessa forma fui eleito aos 21 anos o vereador mais jovem da historia de minha cidade. Lins, no interior de São Paulo .
Passageiro - Comente um pouco sobre sua trajetória pelo PT, antes de ingressar no PSDB.
Edgar Souza - Quando adolescente, me simpatizava com o PT e com o PSDB, pelo compromisso com as causas humanas e libertárias. Acabei me filiando ao PT, pois como todo jovem, primeiro tinha que viver uma experiência na oposição. E naquele momento o PT estava muito mais próximo do movimento popular real do que o PSDB. Naquele momento é bom que se reafirme.
Na minha cidade, o PT representava a real mudança política que sonhávamos.
Tenho orgulho de minha historia dentro do PT, pois a vive com intensidade e sinceridade. Entretanto, com o passar do tempo, já não reconhecia mais o partido que eu entrei. As mudanças da cúpula foram brutais e envergonharam boa parte da militância. Batalhamos pela ética na política e depois veio o mensalão. Batalhamos por uma nova política, aí vieram as alianças promíscuas com Sarney, Renan, Collor e Maluf. Foi muito para mim. Saí do PT e fui para outros partidos, até finalmente ser convidado para ingressar no PSDB, onde estou muito feliz.
Hoje, mais maduro politicamente, sei que temos diversos embates internos para que nosso partido seja de fato o Partido da Social Democracia Brasileira, mas creio que nesses últimos anos a agenda progressista, que sempre foi a marca indelével do PSDB, está sendo retomada com força e tenho gostado muito de participar desse processo. Na prática os governos do PSDB foram muito mais progressistas e populares - não populistas - do que os últimos governos, mesmo reconhecendo vários acertos e méritos neles também.
Passageiro - O nome da legenda que te elegeu prefeito de Lins, levou o nome “Lins Merece Muito Mais”. O que seria - qual o significado deste - esse muito mais?
Edgar Souza - Hoje tenho o desafio de ser o prefeito mais jovem e o primeiro tucano de Lins, mas sei que com as parceiras com os governos federal e estadual e com a experiência já acumulada nos governos tucanos, vamos fazer um grande governo.
Nossa cidade viveu nos últimos anos momentos de sofrimento e abandono, mas com algumas coisas boas. Usamos o lema "Lins merece muito mais" para expressar nosso desejo e compromisso com a superação daquele abandono e mesmo naquilo que era bem avaliado, sabemos que pode ir além, pode ser ainda melhor. Nosso povo é lutador e merece uma cidade com mais oportunidades e serviços públicos de melhor qualidade e mais que isso, uma cidade onde os governantes sejam de fato servidores públicos e que não se sirvam da cidade como acontecia no passado. Hoje, já começamos a construir um novo tempo para Lins.
Passageiro - Como o Movimento LGBT tem se articulado com o Poder Público no município de Lins?
Edgar Souza - Nós não temos um movimento LGBT organizado em nossa cidade, mas temos um tradição progressista de parte da sociedade. Uma tradição de defesa de direitos humanos. Penso que isso nos ajuda. Hoje, mesmo tendo uma prefeitura com grandes limitações financeiras e uma cidade com muitas demandas, criei a Secretaria de Relações Institucionais, Participação e Parcerias, que está organizando diversos grupos da sociedade em suas pautas, em especial as chamadas minorias. Já estamos avançando na articulação dos movimento negro e já demos passos bem bacanas com os LGBT.
Estamos nesses 3 meses na fase de organização e logo teremos nossa agenda específica. Mas como disse durante a posse: nosso governo tem profundo e total compromisso com a construção de uma cidade para todas e todos, combatendo toda forma de preconceito e discriminação e sendo um forte instrumento para a garantia de cidadania plena a todas as pessoas, independente de qualquer diferença de crença, raça, posicionamento político filosóficos, sexo, gênero ou identidade sexual. Sou social democrata e esse compromisso está em nosso DNA .
Passageiro - Recentemente você se posicionou contrário ao Pr. Silas Malafaia, em seu Twitter, onde Malafaia comparava a Militância LGBT, com a Ditadura Militar. O que você pensa dos posicionamentos desses pastores neopentecostais em relação aos Direitos Civis LGBT?
Edgar Souza - Primeiramente penso ser importantíssimo não generalizarmos os evangélicos pentecostais. Esse senhor não representa todos os pentecostais. Ele adora se posar de representante deles, mas eles já deixaram claro que ele não representa a todos. Muitos deles apoiam a luta pelos direitos igualitários e a maior parte não está nem aí para essa discussão.
Com relação as afirmações que ele faz, digo que são absurdas e não encontram respaldo nos evangelhos e tão pouco na fé cristã genuína. Ele gosta muito de falar em ditadura, mas faz de forma dissimulada, espalhando confusão. Tenta fazer as pessoas pensarem que o movimento LGBT quer impor relações e casamentos homoafetivos a todos, como se fossemos obrigar todos a casarem com pessoas do mesmo sexo. Ridículo no mínimo essa tentativa deles.
O movimento LGBT e seus apoiadores e simpatizantes só querem que a democracia brasileira não seja de faz te conta, mas real. E não existe democracia real sem a garantia de todos os direitos iguais a todos os cidadãos. Isso é fundamento da democracia e elemento basilar de nossa constituição. Está lá , é só cumprir.
Passageiro - O PSC afirmou que a polêmica em relação ao Deputado Feliciano pode triplicar a votação dele nas próximas eleições. Você acredita que a legenda tem algum compromisso com os Direitos Humanos ou só mantêm Feliciano no cargo para se aproveitar da mídia que o caso está gerando?
Negar direitos elementares é desrespeitoso, antidemocrático, segregacional e portanto na minha humilde avaliação chega ser uma infração, para não dizer crime. Além disso, sejamos sinceros, apenas pessoas inseguras com sua sexualidade se preocupam tanto com a sexualidade alheia. É deprimente uma liderança religiosa e lideranças políticas se preocuparem com a vida intima alheia e se mobilizarem contra os direitos de outros .
Não quero também generalizar com o PSC, pois não conheço seus integrantes. Mas o deputado Marco Feliciano com certeza não possui nenhum compromisso com a causa dos direitos humanos. Não sei se quer apenas mídia, pois até acho que eles pensam aquelas bobagens e agem absurdamente para travar o avanço dos direitos civis. Na história sempre existiram esses políticos. Tiveram os contrários ao fim da escravidão, os contrários a emancipação feminina, ao divórcio etc. Essa turma aí nada mais é que a herdeira das forças políticas mais atrasadas do país.
Direitos Humanos, mais que uma luta, por sua história já se consolidou como um conceito. E esse senhor que está lá presidindo a comissão não tem nada haver com a história dos Direitos Humanos. Mais que um retrocesso é um descalabro e uma incoerência vê lo lá. Os militantes dos Direitos Humanos não podem se acovardar e nem parar de enfrenta-los, pois se deixarmos depois dos ataques aos Direitos LGBT, eles vão buscar caçar a liberdade de culto, o direito de opinião livre e assim por diante até instalarem eles sim um estado totalitário ditatorial. Todas as pessoas que apreciam a liberdade precisam se colocar contra as ações desse grupo extremista. A liberdade é alma da democracia. Tenho certeza que logo teremos excelentes resultados nessa discussão toda e vamos recuperar a Comissão de Direitos Humanos para os que com ela tem afinidade real.
Passageiro - São Paulo tem sido um grande precursor na questão de garantias de Direitos para a população LGBT. Temos legislação estadual que pune a homofobia, Coordenadorias em âmbito Estadual e Municipais e apoio a maior Parada LGBT do Mundo. Ao que devemos atribuir tantos avanços no nosso Estado, enquanto a garantia de Direitos no âmbito Federal deixa muito a desejar?
Edgar Souza - São Paulo é um estado cosmopolita e aberto ao mundo. Temos aqui as forças mais progressistas bem organizadas e estruturadas. Além disso, apostamos a muito tempo no avanço educacional e na construção de um país mais livre. Isso tem reflexo nessas causas. Sem falar que desde 1995 temos conquistados sucessivos governos democráticos com o PSDB. A agenda dos governos tucanos é a agenda da social democracia. Isso é, a agenda da igualdade de direitos e superação das segregações de qualquer espécie.
Tanto o saudoso Mário Covas, José Serra e principalmente o governador Geraldo Alckmin não se escondem desse tema e assumiram de verdade políticas de promoção da igualdade e respeito a comunidade LGBT. Temos muito a avançar, mas é indiscutível que em são Paulo essas medidas são reais e não apenas propaganda. Não podemos permitir, como no cenário nacional, que direitos fundamentais de cidadãos sejam trocados por tempos de TV na propaganda eleitoral ou votos no legislativo .
Passageiro - Como é a rotina de um prefeito tão jovem? Em meio há tantos compromissos políticos, sobra tempo para se divertir?
Edgar Souza - De fato a agenda é bastante intensa e puxada. Mas vivo a política com paixão, convicção. Não canso de viver esse trabalho de melhorar a vida das pessoas, principalmente das que mais precisam. Mas sempre sobra um tempinho também para uma diversão, sim. Pouco, mas sobra vez ou outra.
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