A fase da adolescência é a mais difícil de nossas vidas,
lembro de muitos momentos confusos, conturbados e de questionamentos de quem eu
era. Depois que tudo passa, percebemos que é uma época mágica, de descobertas que
levaremos para o resto de nossas vidas.
Foi na adolescência que descobri a minha homossexualidade,
que dei o primeiro beijo numa menina e depois num menino. Também foi na adolescência
que tive minha primeira relação sexual, com outro adolescente e junto com essas
descobertas, vieram as cobranças se aquilo que eu havia feito era
correto, certo aos olhos de Deus. Foi na adolescência que vivi meu primeiro amor
e minha primeira desilusão.
Na semana passada fui com minha mãe, irmã e sobrinhos para a
praia, olhando para a minha sobrinha, comentei com a minha irmã: “A Larissa
está naquela fase, que para nós é uma criança, para os outros é uma moça e ela
não sabe quem é”, acredito que essa é a melhor definição para a adolescência.
No dia 10 de janeiro estreio nos cinemas de todo o Brasil o
filme “Confissões de Adolescentes”. Passei minha adolescência inteira assistindo
o seriado que deu origem ao longa-metragem, vivi alguns dilemas apresentados no seriado,
assim como todos que passam ou passaram por essa fase.
O filme é um grande acerto de marketing. Todos aqueles que
viram o seriado já são adultos, alguns com filhos e sobrinhos e que
provavelmente irão proporcionar a eles a sensação de assistir e vivenciar
alguns dos seus sentimentos que ficaram nessa época tão conturbada para todos.
A adolescência deveria ser basicamente isso: uma fase
estranha, de conflitos e sob a proteção e tutela dos pais... Nem sempre é isso
que acontece. Um dia após a estréia do filme, Kaique,
um adolescente gay foi encontrado morto nas ruas de São Paulo.
Kaique era apenas mais um adolescente, que deveria estar
amando e odiando o mundo ao mesmo tempo, mas ele estava numa boate, num
ambiente não permissivo para sua idade e nem para idade dos seus amigos. A
morte do adolescente envolve um monte de mistérios, na balada, o menino havia
perdido a carteira, seus amigos se separaram para ajudar a encontrar os seus pertencentes
e depois disso não foi mais visto.
As oportunidades de viver todos os
conflitos da adolescência foram tiradas de Kaique, talvez bem antes da sua
morte. Entrei na página do Facebook da Pzá, festa onde Kaique estava antes de
sua morte, e fiquei estarrecido com o que vi. Adolescentes com aparência de 12,
13, 14 anos com bebidas, num mesmo ambiente com pessoas maiores de idade.
Na internet, montaram uma página
com o tema “Quem Matou Kaique?”. Kaique foi morto por todos nos, pela
sociedade, pela ordem vigente. A balada onde Kaique estava, que serve bebidas alcoólicas
para menores de idade, também é co-responsável pela sua morte, assim como a ausência
dos seus tutores legais. A falta de políticas públicas para a população LGBT, o veto do Kit-anti-homofobia, assim como a desconfiguração e o enterro do PLC 122 também são responsáveis pela morte do menino.
Kaique era um adolescente de apenas 16 anos, perambulando pelas ruas de São Paulo, que se tornou mais um numero nas estatísticas de violência do Brasil.
Kaique era um adolescente de apenas 16 anos, perambulando pelas ruas de São Paulo, que se tornou mais um numero nas estatísticas de violência do Brasil.
Um comentário:
Aqui em Recife existia ao lado de um shopping badalado um ponto de encontro de adolescentes. eu ficava estarrecido porque o que mais se via eram menores (bem menores) usando drogas de todos os tipos, muito álcool e tudo isto antes irem para a boite.
não era bonito de se ver, era triste. aprendi desde cedo que nunca devemos pular etapas e quando assim fazemos, perdemos muito, pagamos um preço muito alto!
enfim, o que fazer? Kayke, assim como tantos outros jovens que se foram e nem viraram manchete não voltará mais, mas podemos fazer algo para que isto não aconteça mais. sim. nós podemos!
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